terça-feira, 2 de novembro de 2010

Conceituando Currículo e sua Integração com as Tecnologias


O currículo, visto de forma restrita, consiste em uma relação organizada de conteúdos a serem trabalhados com o objetivo de alcançar determinados resultados com os alunos. A forma como um currículo está organizado deixa transparecer a concepção de humanização, de ensino e de aprendizagem que uma sociedade tem. Dessa forma, chamamos de grade curricular, porque é somente uma grade, um esqueleto sem vida do que ensinar e do que aprender.

Porém, a forma como iremos trabalhar o conhecimento, os recursos que iremos utilizar, a relação que iremos estabelecer entre os conteúdos curriculares e a realidade da comunidade, da escola e dos alunos, é o que lhe dará vida e faz com que não seja apenas uma lista de conteúdos pronto e acabados. E é nesse “dar vida”, que nós educadores, fazemos a diferença. Por que o que irá promover a participação e avanço do conhecimento do aluno não é simplesmente o conteúdo, mas a forma como abordamos o conteúdo, como propiciamos a interação do educando com o mesmo. E nesse aspecto, cresce cada vez mais a necessidade de profissionais criativos, capazes de desenvolver situações instigantes, desafiadoras e que saibam integrar as mídias no desenvolvimento do currículo. Pois através da integração das mídias ao currículo, podemos realmente dar vida aos conteúdos curriculares, rompendo com o saber construído antes somente no espaço da sala de aula e expandindo-o a partir dos recursos tecnológicos para outros ambientes, possibilitando além disso, situações de aprendizagem individuais e coletivos em tempos e espaços diferentes.

Falamos então, de um conhecimento construído a partir da interação, mediado na maioria das vezes pelo uso pedagógico das mídias. Da interação do aluno com o professor, com os colegas, com pessoas distantes, com os conteúdos curriculares, com o meio em que vive e com o meio muitas vezes não tão próximo, mas do qual também faz parte. Percebemos, portanto, a importância no contexto atual de uma atuação na escola em que aluno passa de passivo para participativo. Antes ele passava por tudo, hoje ele de tudo faz parte. E o trabalho com projetos em sala de aula, integrando as mídias ao seu desenvolvimento, possibilita ao aluno aprender fazendo, se reconhecendo naquilo que faz e colocando em prática o que nós, educadores almejamos, a construção de seu próprio conhecimento.

Currículo desenvolvido na ação

Socializando experiência com projeto

Projeto: A arte da leitura e da
escrita
No ano de 2009, atuando como supervisora dos Programas de Correção de Fluxo: Se Liga e Acelera, através dos monitoramentos diagnosticamos no início do 2º semestre que apesar do trabalho já realizado, a turma do Se Liga (alunos não alfabetizados com distorção idade-série, que não estudaram ou que acumularam anos de freqüência à escola sem desenvolver habilidades essenciais para o sucesso escolar), da Escola Estadual Lacerdino Oliveira Campos, encontrava-se em nível crítico de aprendizagem, por diversos fatores: desmotivação, indisciplina, falta às aulas, falta ao reforço escolar, dificuldades de aprendizagem, falta de acompanhamento familiar, recusa em realizar as atividades escolares, baixa autoestima e crença na incapacidade de aprender tanto por parte dos alunos como dos pais. Tornou-se, urgente, a partir dos problemas detectados, a elaboração e desenvolvimento de ações imediatas e contínuas, visando alcançar, no final do ano letivo, as metas do Programa: 100% de aprendizagem, com qualidade.

Sentimos, então, a necessidade de desenvolver um projeto, por acreditar na valorização e capacidade de cada ser humano e sentir o compromisso de ser agente não só de constatação daquela realidade, mas de transformação. Elaboramos e desenvolvemos, então, o projeto “A arte da leitura e da escrita”, que tinha como objetivo utilizar as diferentes linguagens ajustadas às diferentes situações e comunicações e intenções de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades, desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade de leitura e escrita, a fim de tornarem-se leitores e escritores competentes.

A execução desse projeto, que ocorreu durante o 2º semestre, foi um desafio, mas as dificuldades foram superadas. O resultado no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos foi surpreendente, alcançando excelentes resultados. Todos os alunos que participaram das ações do projeto no período extra classe encerraram o ano letivo lendo e escrevendo e os demais alunos que participaram das ações desenvolvidas em sala de aula também avançaram na fluência da leitura e da produção de textos, além da disciplina em sala de aula e atitudes positivas em relação às atividades escolares.

Merece destaque também, o trabalho realizado com as famílias. Os pais dos alunos passaram a se interessar e ajudar seus filhos nas leituras e atividades. Como algumas das ações do projeto também ocorriam em suas casas, eles acompanhavam cada fase de aprendizagem, surpreendendo-se por ver que outras pessoas se importavam com seus filhos e se contagiavam, se envolviam, percebiam que sua contribuição é importante e aprendiam melhor como ajudar e incentivar seus filhos. Alguns pais assistiam toda a aula e o que mais me comovia e que não poderia deixar de registrar aqui, era quando, ao observar os progressos ocorridos de uma aula para outra, eles percebiam que seus filhos realmente são inteligentes, são capazes e passavam, também, a acreditar e investir no sucesso escolar deles ( devido o histórico escolar de cinco alunos, seus pais diziam que os mesmos tinham problemas e não conseguiriam jamais aprender).

Um fator preponderante para que o resultado do projeto alcançasse 100% dos objetivos e metas estabelecidos, foi o uso das tecnologias. O mesmo contribuiu, de forma significativa com o avanço na aprendizagem dos alunos e da prática pedagógica, ao possibilitar através do uso do laboratório de informática, ações de pesquisas e interações, como por exemplo, ao trabalharmos o gênero HQ( história em quadrinhos), foram realizadas pesquisas sobre o autor (Maurício de Sousa), características do gênero, comentário em blogs que apresentavam tirinhas e produção de HQs pelos alunos.

O ano letivo foi encerrado com sucesso e a sensação e satisfação de dever cumprido, porque realmente houve um trabalho participativo entre alunos, escola e família e este projeto fez a diferença para essas crianças, esses pais, essa escola, essa comunidade e também para nós professores.

Pensando sobre possíveis mudanças e contribuições das tecnologias


Nós, educadores, consideramos como nossa missão ensinar para a vida. Ensinar preparando nossas crianças e jovens para atuarem de forma autônoma na sociedade em que estão inseridos. Para que possam ter condições de fazer parte na construção de um mundo cada vez melhor. Participar. Essa é a palavra. Que possam participar, tomar parte, ser sujeitos e não objetos de sua história. Que possam ser agente de mudanças, que as compreendam e saibam conviver com elas e não somente serem vítimas. Que possam desenvolver suas habilidades e competências. Enfim, que possam ser felizes.

Dessa forma, não temos como trabalhar uma educação que não esteja de acordo com o contexto em que vivemos, com as mudanças que vivenciamos e com as ferramentas necessárias para participar desse contexto. Não temos como fugir dos avanços e recursos tecnológicos que estão presentes em nosso dia a dia. Nem das mudanças na forma de aprender, de ensinar e de se relacionar, que foram se estabelecendo a partir do uso desses recursos. Continuar a trabalhar a educação da forma como fazíamos antes é negar ao nosso aluno o conhecimento das ferramentas necessárias para que atue de forma consciente e crítica na sociedade atual. É fazer com que o papel da escola perca seu verdadeiro sentido.

Precisamos, então, urgentemente repensar a nossa prática pedagógica. De acordo com Paulo Freire, “Há necessidade de sermos homens e mulheres de nosso tempo que empregam todos os recursos disponíveis para dar o grande salto que nossa educação está a exigir”. A partir dos relatos dos profissionais da educação, do relato dos alunos e dos índices que se apresentam a cada ano letivo, compreendemos que a mudança é necessária. A educação está a exigir um grande salto. E nós, estamos preparados para esse salto e estamos utilizando todos os recursos (tecnológicos) que dispomos para que ela aconteça?